Quinta da Figueira, o vinho de garagem de Florianópolis

Tenho passado um bom tempo garimpando produtores pouco conhecidos do público em geral, mas que fazem vinhos diferenciados e prazerosos. Desta vez tive a oportunidade de conhecer os vinhos da Quinta da Figueira, feitos pelo enólogo Rogério Gomes em Florianópolis. Verdadeiros vinhos de garagem, pois são feitos na garagem de seu pai. O Rogério compra uvas dos Vinhedos Terras Altas (em frente a Villa Francioni e atualmente arrendado para Quinta da Neve), Vinhedos do Monte Agudo, Tenuta do Sol e Suzin, todos em Santa Catarina.

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Gomes adquiriu barricas usadas da Villa Francioni, que foram enviadas ao famoso tanoeiro Eugênio Mezacasa em Monte Belo do Sul, para raspagem e tostagem, e hoje já possui mastelas de fermentação, bomba de trasfega, filtro italiano, prensa italiana, desengaçadeira, enchedora italiana, barricas novas, tanques e contratou o laboratório Labran para realizar as análises dos vinhos e auxiliar na fabricação.

O nome Quinta da Figueira foi escolhido para homenagear a figueira centenária que há na praça XV em Florianópolis e é símbolo da cidade, mas vamos aos vinhos. Degustei 06 vinhos:

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Savignon Blanc 2009: Um dos primeiros vinhos da vinícola, feito com uvas compradas da Quinta da Neve, quando o parreiral estava com 03 anos de idade. O mosto foi fermentado um tempo com as cascas, o que gerou uma intensidade de cor pouco comum nos s.blanc, e foram usados chips bem tostados, resultando em um vinho fora dos padrões da uva. Ao ver a cor na taça me animei, mas achei o vinho pouco aromático, com aroma de lavanda e final de boca pobre. Sem dúvida uma curiosidade, devido a sua raridade restrita a 10 garrafas.

Chardonnay 2010: Uvas compradas dos Vinhedos do Monte Agudo. O vinho foi feito ao método do velho mundo, quando não havia muita tecnologia para elaborar brancos. A metade das uvas foi fermentada com as cascas em tanque aberto e a outra metade fermentou em baixa em tanque fechado. Os dois vinhos foram misturados e o corte foi clarificado e filtrado antes de engarrafar. Isso tudo gerou um vinho laranja, lindo, que não deve ser tomado à noite como eu fiz, sob pena de não se emocionar com a bela cor. Nariz bem mais intenso que o sauvignon Blanc, com toques de caramelo e cítrico, mas achei um pouco sem alma no gole. Gostaria muito de ver outra safra desse vinho, nesse mesmo estilo “Orange Wine”-que adoro- com mais presença de aroma de boca e final longo.

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Quinta da Figueira-Reserva Perpétua Lote I: Aí a coisa ficou séria. Eu que normalmente simpatizo mais com os brancos, me encantei com esse vinho. O Lote I é um corte de uvas da Safra 2009 e 2010, os quais passaram por barricas americanas, francesas, de tosta média, novas e usadas. As uvas são oriundas dos Vinhedos Terras Altas e Vinhedos do Monte Agudo. 80% C.Sauvignon e 20 % Merlot. Cor violácea com muito brilho, sem aroma algum de estrebaria, bastante comum nos vinhos brasileiros, expressando muita fruta fresca, mineral, acidez perfeita, de corpo médio para cheio, taninos quase imperceptíveis, muito finos. Encantou toda a mesa. Era o preferido até então.

Quinta da Figueira-Reserva Perpétua Lote II: Quando todos se davam por encantados com o Lote I, o Lote II surgiu para desfazer a unanimidade. Alguns continuaram preferindo o I e outros mudaram imediatamente a preferência para o II. Esse segundo tinto é uma mistura de 40% do Lote I com 60% de Merlot 2011 adquirido da Suzin. O vinho é mais turvo e mais claro que o anterior, de uma maciez incrível, que foi sorvido aos elogios por toda mesa.

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A postagem já está enorme, então deixo para outra oportunidade os dois vinhos tintos restantes, que foram o Winekit 2008 e o Cab. Sauvignon 2008 Pitanga, os dois primeiros vinhos produzidos pela vinícola. Parabéns a Quinta da Figueira que já mostrou grande qualidade em seus primeiros vinhos.