“Selosse copiou Estrelas do Brasil!”

gosto16Tomar Champagne sempre é uma festa, certo? Errado. Nem tudo que leva o nome “Champagne” no rótulo é bom. Tem muita coisa média e até mesmo ruim nessa que é a Meca do espumante mundial. Tenho um amigo francês que vive do mundo do vinho e sempre me diz que na região estão os maiores cambalachos do vinho francês. “Há vinho base vindo de tudo quanto é canto para virar espumante em Champagne, ou você acha que aquele território limitado consegue plantar e fazer vinho que abasteça todo planeta como ocorre fartamente? Não se preocupe  Champagne nunca irá faltar”. Por isso quando vejo pessoas se vangloriando de estarem tomando o rótulo básico daquele Champagne da etiqueta amarela, corriqueiramente vendido no país, tenho certeza de que estou diante de um exibicionista.

 

 

Há vários rótulos superiores a ele fora de Champagne, inclusive no Brasil. Sim, no Brasil. Digo isso porque tive a horna de provar o fantástico champagne Jacques Selosse Grand Cru V.O. “Version Originale” Blanc de blancs Extra Brut de Avize, feito por Anselme Selosse. E olha que esse ainda não é o top de Anselme que se chama “Substance” feito em sistema de solera que cria uma complexidade cada vez maior.

Selosse pratica viticultura orgânica, utiliza somente leveduras indígenas e fermenta seus vinhos em barris de carvalho adquiridos do Domaine Leflaive. Esses barris permitem uma microoxigenação essencial ao caráter oxidado e peculiar que seus vinhos têm. O V.O. tem cor bronze-dourada tendendo para o âmbar, com nariz de especiarias, mel, jerez, leveduras, panificação e uma mousse que preenche a boca. Apenas 3.600 garrafas desse champagne que teve o degorgée em 23 de outubro de 2007. Provavelmente assustará os “apreciadores” do champagne do rótulo amarelo; devido a sua cor de oxidação, seus aromas inusitados e pouca perlage. Ah! outra coisa que já ia esquecendo, ausência ou baixa perlage não é sinal algum de inferioridade. Voltando aos amigos que freqüentam Champagne, há vários artifícios não naturais de se criar um perlage em espumantes medíocres, mas isso é assunto para outra hora.

Eu havia dito que se pode tomar espumantes brasileiros melhores que alguns champagnes, principalmente os de entrada, e um deles é o Estrelas do Brasil Brut Champenoise 2006. Ao apresentar esse vinho ao tarimbado degustador Guilherme Rodrigues ele me disse que era o Selosse brasileiro e me perguntou se já havia provado Selosse. Eu não havia, foi ele que me proporcionou essa experiência relatada aqui. Ao provar tive a certeza do que havia me dito, o Estrelas é sem dúvidas o Selosse do Brasil, a semelhança é incrível, não sei se foi intenção do enólogo, mas é parentesco de primeiro grau. E foi nesse ímpeto de emoção que eu disse à mesa: “Selosse copiou o Estrelas” e todo mundo caiu na gargalhada.