Vinitaly 2010-Primeira parte

vinitaly3A sommelière Alessandra Rodrigues, que já foi entrevistada aqui no DCV, esteve na Itália participando da Vinitaly, e nos traz suas impressões em uma postagem dividida em partes (primeira parte):

“Apesar da demora, finalmente consegui  escrever algumas coisas sobre a minha viagem para Itália e para França no mês de abril. Como vocês já devem ter imaginado, fui para Verona, para o Vinitaly, um  dos maiores eventos (feiras) sobre vinhos, com produtores de todas as regiões da Itália expondo seus vinhos, além de outros, de várias partes do mundo. Ali ocorrem degustações, harmonizações, várias palestras e infelizmente é impossível participar de tudo (4.213 expositores esse ano)!!

No primeiro dia da feira, fui gentilmente convidada pelo sr. Giovanni Busi pra degustar os seus excelentes vinhos. Ele é proprietário da Villa Travignoli, uma casa vinícola com 70ha de vinhedos, com altitude entre 250m – 400m, localizada em Pelago (perto de Firenze). Lá são cultivadas uvas autóctonas como Sangiovese, além das já conhecidas uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay. O Chianti Rufina DOGC é de ótima qualidade, assim como o Chianti Rufina DOCG Riserva. Pude experimentar todos os vinhos produzidos por ele, até chegar ao Vin Santo (70% Malvasia e 30% Trebbiano) – todos realmente de qualidade muito boa!!

Em seguida fui convidada pelo meu querido amigo jornalista Maurizio Gily para uma degustação promovida pelo Consorzio Tutela del Pecorino di Farindola e pela Cantina Frentana – da região de Abbruzzo – e pude provar produtos típicos dessa região, de excelente qualidade! Infelizmente essa região é pouco conhecida no Brasil, mas é surpreendente. Foram servidos:

Mortadella di Campotosto

Queijo Pecorino di Farindola – fresco

Queijo Pecorino Canestrato di Castel del Monte – 1 anno de maturação ou cura, como dizemos no Brasil                                                                                                                              

Lentilhas de Santo Stefano – lentilhas bem pequenas e extremamente saborosas.                  vinitaly4

Com todas essas iguarias, foram servidos: o espumante Cococciola, produzido com o método Charmat e com um bouquet extremamente floreal, que me lembrava muito o jambo amarelo (alguém se lembra dessa fruta?). Logo depois foi servido um vinho feito com a uva autóctona Pecorino (mesmo nome do queijo), também com notas florais (abacaxi principalmente) e notas minerais. Um vinho surpreendente! Depois sim, provei o nosso já conhecido Montepulicano D’Abruzzo de 2006!”

Alessandra Rodrigues.

Enoteca Fasano eleva preço de vinho em mais de 45%!!!

Anjou Marie Besnard 2002, feito pelo casal Agnes e Rene Mosse do Domaine Mosse, 100% chenin blanc. Um vinho já postado aqui, mas que não é sacrifício algum postá-lo novamente. Não é um vinho fácil para iniciantes em vinho branco, tem aromas oxidados e de tangerina. Bastante encorpado, untuoso e de final longo. Um vinho que só é procurado por apreciadores desse estilo. Como no Brasil o vinho mais consumido é o tinto, e dentre os brancos, esse tipo fica em terceiro plano, não entendo como o importador (Enoteca Fasano) elevou o preço em 45,89% do preço cheio, que era de R$ 292,00, custando agora os incríveis R$ 426,00. Digo do preço cheio, pois, em abril desse ano eles fizeram uma promoção de 30% em cima do preço antigo, saindo por R$204,40. Isso tudo para não dizer o preço desse vinho nos EUA, que custa $29,00 (vinte e nove dólares=R$52,20). Todas essas variações são para o vinho da mesma safra, 2002.

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A mesma Importadora vende um Cru Bourgeois por R$229,00 que pode ser encontrado no Carrefour por R$26,90 (custava R$85,00), mas essa eu conto outra hora.

Quinta de Baixo Reserva 2005

quintadebaixoVinho da Bairrada, aonde os tintos são dominados pela casta Baga, esse exemplar utiliza as uvas Maria Gomes e Arinto. O vinho fermenta e estagia em barricas de carvalho francês, dando complexidade, caráter e uma acidez equilibrada.

O vinho apresenta uma bela cor amarelo-ouro, com um grande volume de boca. Toques de baunilha são bem notados devido à passagem por madeira, e seu final é intenso e longo.

Chateau de Fonsalette 1999

fonsalette1Esse é o vinho que gerou toda uma história entre o cineasta/Sommelier Jonathan Nossiter (Mondovino) e a loja de vinhos Cave Legrand em Paris. História iniciada no capítulo 2 do livro Gosto e Poder (de Nossiter), e desvendada no epílogo do mesmo. Nesse caso foi o Fonsalette 1997, ano da morte de Jaques Reynaud (que não deixou filhos), e não o que descrevo aqui, o 1999, já produzido por seu sobrinho Emmanuel Reynaud. 

O Chateau de Fonsalette branco é um vinho feito e vinificado no Chateau Rayas, que é um dos grandes produtores de Chateauneuf du Pape no Rhone. É feito das uvas Grenache-80%, Clairette-10% e Marsanne-10%, fonsalette2sendo um Côtes du Rhône diferenciado. Esse 99 apresentou uma cor amarelo-ouro com aromas herbáceos, vegetais e resinosos. Na boca um final longo e encorpado, mas já com uma acidez decadente. Um vinho bem superior aos Côte du Rhone encontrados por aí.

Château Mylord na Grand Cru

mylordNa sexta-feira passada provei um vinho Bordeaux da magnífica safra 2005. Foi o Château Mylord 2005, que brindou um ótimo jantar num lugar inesperado até aquela ocasião. O local foi a enoteca Grand Cru aqui em Brasília. A última vez que estive por lá, ano passado, era apenas uma loja de vendas de vinhos com um visual pra lá de bonito, que servia alguns petiscos típicos deste tipo de loja. Para minha surpresa, ao chegar na adega/bistrô com minha esposa, deparei-me com uma quantidade grande de fregueses aguardando uma mesa. Logo percebi que a adega havia se tornado realmente uma Enoteca/Bistrô de elevado nível. O proprietário Fernando achou a fórmula correta – ao meu ver – de trabalhar o negócio do vinho, brindando os enófilos sérios e amantes da bebida de Baco, com um Menu de comidas apropriado ao local. Como sempre divulgo a máxima: “vinho e comida são inseparáveis”, começam a surgir as enotecas que não somente vendem vinhos, mas passam a servir um leque de comidas dignas aos vinhos degustados no local – não aqueles petiscos mirrados e exageradamente caros ao que se propõem. Pois bem, o bistrô/Enoteca Grand Cru do DF está belíssimo, romântico e seu cardápio de quatro pratos, assinado pela Chef Andréa Munhoz, muda diariamente. Com um leque de opções que somente uma enoteca pode oferecer – a preços de custo – o enófilo pode escolher o vinho que lhe agrada, no catálogo com mais de 1.800 rótulos do portfólio desta empresa importadora, saboreando uma boa refeição. Os donos de enotecas começam a ouvir a voz de Deus – os consumidores!!

Nesta ocasião provei o Bordeaux Mylord 2005, que foi aberto por meia hora e refrigerado com perfeição pelo competente sommelier Lázaro. O vinho manteve a qualidade dos Bordeaux 2005 que já provei. Nariz lembrando carvalho e couro, com uma cor rubi intenso e tons violáceos. Notas de frutas negras, como amoras, se sobressaem no médio corpo. Pareceu-me um vinho rápido, devido ao curto final de boca. Uma ótima estrutura e harmonia entre acidez e taninos. O château Mylord é daqueles primos-pobres da apelação de Bordeaux, myl-borra1conhecidos como denominações “satélite”, com vinhos consumidos mais jovens mas ainda assim de grande qualidade, sendo inclusive produzidos sem filtragem – vejam as borras no final da taça (foto). Usam sempre as castas bordalesas, claro, mas com a Merlot em maior volume. Tanto que este 2005 está no auge para consumo e não creio que possa evoluir bem por mais 3 anos. Para quem deseja aproveitar este exemplar na sua exuberância deve provar agora. Nota 88 pts.

Philippe Leclerc, Gevrey-Chambertin 1Cru, La Combe aux Moines 1996

leclerc2Tive nova oportunidade de tomar o Gevrey-Chambertin do Philippe Leclerc, graças à generosidade do amigo Guilherme (Um papo sobre Vinhos).  Digo isso porque esse vinho não tem importador no Brasil e para ter acesso a ele, alguém tem que trazê-lo do exterior. Foi o que ele fez.

Philippe Leclerc faz 03 Gevrey-Chambertin 1Cru, são eles: Les Champeaux, Les Cazetieres e La Combe aux Moines. Esse último, muitas vezes considerado o mais fino dos três, como disse a revista Burghound n.33. O solo desse vinhedo é composto de argila e calcário, intercalados com rochas. Isso faz com que as raízes das vinhas se aprofundem na terra em busca de nutrientes. O vinho não sofre filtração nem colagem (processo de clarificação, em que claras de ovos batidas são adicionadas, para aglutinar as partículas suspensas no vinho). Seus 1Cru são envelhecidos por até 2 anos em barricas de carvalho novas.                                                                                                                      leclerc1

Como já tinha dito, eu já tinha tomado a safra 2006 desse vinho que se mostrou muito sedutora. Já esse 1996 apresentou mais complexidade que exuberância. Sua cor denotava problemas. Alaranjada, bem turva e com sedimentos, sugeria um vinho defeituoso, porém no nariz e na boca o vinho estava perfeito, apresentando um incrível tanino (firme sem agressividade) e uma acidez perfeita. Isso demonstra que nem sempre turbidez é sinônimo de vinho defeituoso (vide château Chalon). Leclerc sugere que seus vinhos, de safras médias, sejam consumidos de 5 a 10 anos após a safra, e de 10 a 20 anos safras mais favoráveis.

Mas de Daumas Gassac, o Grand Cru do Languedoc

Um vinho enaltecido por Hugh Johnson, que o chama de “O único Grand Cru do Midi”, por Robert Parker e Michael Broadbent, gera no mínimo curiosidade de conhecer. Em apenas 30 anos, Mas de Daumas Gassac se tornou um ícone do Languedoc. O vinho foi criado em 1971 pelo renomado enólogo de Bordeaux Emile Peynaud, que aceitou o convite da família Guibert por nunca ter assistido ao “nascimento de um grande vinho”.  A propriedade conta com mais de 40 variedades de uvas, procedentes dos mais variados países como Portugal, Israel, Suíça, Armênia… Todas plantadas em terras da vinícola.  
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Tive a oportunidade de conhecer o vinho top, nas versões tinta e branca, na presença da simpática Victorine Babé, responsável comercial para Espanha, Portugal e América Latina. Ela é francesa, mas fala um ótimo português, bem melhor que alguns franceses que já moram aqui há 30 anos, e essa foi a primeira vez que ela veio ao Brasil.
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O Mas de Daumas Gassac tinto é feito de 80% Cabernet Sauvignon e os outros 20% por outras 20 uvas diferentes como Cabernet Franc, Bastardo, Pinot Noir, Merlot, Tannat, Dolcetto… E o degustado foi da safra 2006. Um vinho estruturado lembrando mais um Bordeaux de altíssima qualidade que um Borgonha. Um vinho que permite um envelhecimento de mais de 25 anos em boas safras. O branco já não contou com o auxílio do Emile Peynaud, que já havia falecido à época de sua criação. Feito de Chardonnay, Viognier, Chenin Blanc e Petit Manseng (20% de cada uma delas) e mais 15 outras uvas francesas. Foi degustado o da safra 2005, que apresentou uma cor dourada linda, e sabor e aromas bem peculiares. Vinhos de exceção do Languedoc. Não foi à toa que Robert Mondavi tentou a todo custo comprar uma parcela das terras de Guibert, como mostrou o filme Mondovino.